26 março 2009

Escutos os Silêncios da Noite

Escuto os silêncios da noite
Alumiada por cândida luz.
Nada me dizem ou sussurram,
Apenas pairam no ar como
Entes jazidos da penumbra.
Embalsamei a minha mente
Em cheiros de cânfora
Que ardem lentamente
Numa lâmpada tosca.
Meus pensamentos vêm
Um por um afogar-se
No azeite escaldante
Do incensário.
Padeceram de nada dizerem
Existir não era o seu mote,
Suspiraram languidamente.

3 comentários:

  1. lindo...

    (faz-me lembrar um poema do Álvaro de Campos, mas atrevo-me a dizer que gosto mais do teu :)

    ResponderEliminar
  2. Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
    São – tictac visível – quatro horas de tardar o dia.
    Abro a janela directamente, no desespero da insónia.
    E, de repente, humano,
    O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
    Fraternidade na noite!
    Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
    Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
    Dorme. Nós temos luz.
    Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
    Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
    Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
    O coração latente das nossas duas luzes,
    Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.
    Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
    Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
    Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.
    Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
    Que fazes, camarada, da janela com luz?
    Sonho, falta de sono, vida?
    Tom amarelo cheio da tua janela incógnita…
    Tem graça: não tens luz eléctrica.
    Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!

    Álvaro de Campos

    ResponderEliminar
  3. gostei muito*


    "I was moving through the silence without motion, waiting for you,
    In a room with a window in the corner I found truth.
    In the shadowplay, acting out your own death
    (...)
    To the centre of the city in the night, waiting for you."

    ResponderEliminar